Thursday, January 15, 2009

Compras de mês

A sede forte, a carne em brasas
um amontoado de possibilidades
Olhos se cruzam, como estrelas no céu
Pairando sobre as aparências
Nenhum interesse mais profundo
Ninguém quer emergir em outro mundo
Todos presos em seus cercados
"Venha, mas vá embora rápido!"
Não cai bem chorar em público
Vá comprar seu bocado de carne
Tempere, lambuze e descarte
Tudo termina bem se ninguém sabe
Sacie-se, não importa com que pedaço
Não é nada disso, mas serve
É o que tem, está barato...
Tá faltando poesia no mercado.
Corre criança, vem ver o sol nascer
privilégio dos insones, dos boêmios e dos matutinos...
Corre criança, vem ver as estrelas da noite
privilégio dos insones e dos boêmios...
Corre criança, vem ver a chuva que cai a tarde
privilégio dos boêmios...
Afinal de contas, que horas os boêmios vão pra cama?
Que horas se cansam de tudo e se isolam?
Que horas não existe "cachaça, samba e viola"?

Sunday, July 06, 2008

Os pés por asas

Ponha os pés no chão! disseram-me um dia
Quando contei, em segredo, que de certa forma posso voar...

E passei muito tempo tentando alcançar o chão....

O amargo disso tudo foi que não encontrei...
Encontrei algo além dele, talvez abaixo



Descobri onde moram aqueles que não tem asas
Pra quem a vida é crua
Pés descalços que não pisam o chão
Pés descalços de sonhos, sobre um pedaço de lama
Sobre pedras pontiagudas
Algum tempo caminhei com eles, achando que o caminho era mesmo assim
Ponha os pés no chão! eu lembrava
Em resignação seguia muda
E os pés doíam, o cansaço aumentava
Um enorme peso sobre as costas
As asas amarradas
Entre a dor e o cansaço os "sonhos possíveis"
a matéria que envolve o humano
Ter... Poder... Vencer...
Vencer o quê? Ter o quê? Pra quê tanto posso, não posso
Um sopro no rosto, um rosto estranho
Um resto de pés machucados
...
Sem poder mais andar, enfim uma certeza...
Quem poderá saber aonde está o chão que devo pisar?
E desamarro minhas asas como a bailarina
que calça sua sapatilha num gentil movimento,
afastando
o possível encontro dos pés
ao chão

Retorno


A terra escura, a noite dura, o frio
De súbito lampejo, um pulo de gato
um rio
Que era crua, a vida muda
O ato, o fato, o fardo
farta enfim a luz, embora
Imatura aurora
Que enorme alegria
sorri para mim
um bebê poesia...

Saturday, December 02, 2006

sinais

Se ficasse o dito pelo não dito
pra quê essas malditas palavras?
- Não quero falar disto!
...

Thursday, October 05, 2006

Fala

A criança aprendeu a falar
daí lhe disseram
não fale tudo
e ela descobriu que é muito díficil
entender onde está o limite
entre o dito e o escutado
entre o querer e o apropriado...

Thursday, July 27, 2006

"Que é loucura: ser cavaleiro andante ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?

O que, acordado, sonha doidamente?

O que, mesmo vendado,
vê o real e segue o sonho
de um doido pelas bruxas embruxado?

Eis-me, talvez, o único maluco,
e me sabendo tal, sem grão de siso,
sou — que doideira — um louco de juízo."

Drummond (Quixote e Sancho, de Portinari)

Sunday, July 09, 2006

Uma quadrinha inocente


O beija-flor foi até a flor
que se chama beijinho...
- Quem beijou quem? -
a flor ou o passarinho?

Wednesday, May 24, 2006

Como é que você chama?




Eu às vezes chama...
às vezes luz elétrica...
às vezes escuridão.